Transcrevo o diálogo por email:
(Querido é muito gay, digo, caro Léo:)
Após a minguada refeição, eis que me deparo com o
email do prof. Bahiense. Houve o tempo das missivas e me lembro do deleite
provocado pelas cartas de Capistrano de Abreu ou então pela correspondência
entre Machado de Assis e Joaquim Nabuco. Agora, fala-se por email e no limiar de
uma piscada de cursor o destinatário receberá sua mensagem. Voltemos ao Léo
Bahiense. Pensei de pronto: em uma obra extensa o que importa é a tese central,
o resto é adereço. Said criou um conceito que expressa uma alteridade histórica
inquestionável. Já comentei a questão alhures, prefiro me concentrar na parte em
que o Bahiense se refere à Mário Filho que, após sua morte, teriam achado
material pornográfico entre seus pertences póstumos. Como é possível que um
"monogâmico" (o termo é do Léo) tenha conteúdo pornográfico escondido?
Não disponho de informações suficientes. O sujeito
poderia ser monogâmico e extremamente libidinoso, não vejo contradição nisso.
Por outro lado, como disse Osho, no interior de cada santo há sempre um
pervertido. A psicanálise junguiana afirma que dentro de todos há um lado
"sombra, responsável por desejos e apetites inconfessáveis. É fácil prolongar os
argumentos a favor desta complementaridade entre opostos. Quem pode imaginar,
por exemplo, que um professor tão culto e dinâmico esconde a complexa
personalidade delirante de um Leonardo Bahiense?
Todos nós temos nossos segredos e, parafraseando o
clássico fado, "nem às paredes confesso". Não me vejo morto, pois ainda tenho
muito a fazer e dizer. E nem acredito que orações ou magia tragam êxito em
concursos. Pelo que vejo há um mix de competência, politicagem e sorte! Nessa
ordem, se tudo correr bem. Mas creio que o magistério seja muito pouco para o
meu amigo. No máximo, garantirá o feijão com arroz. Se minhas preces tivessem
qualquer prestígio no céu, eu rogaria aos céus que portas maiores se abrissem,
como por exemplo, um secretaria de governo, um programa na Globo, um cargo na
ONU...
Jg
estou aqui vencendo a obra do Said, extremamente erudito. Para além da tese
central, o livro derrapa em um exercício retórico cansativo (afora uma má
vontade com o Ocidente). Mas reconheço a importância do texto. Comprei dois
críticos de Said em inglês, que questionam especificamente o seu "Orientalismo:
o oriente como invenção do ocidente". Quando tinha vinte e poucos anos, saindo
da faculdade, li a biografia de Nelson Rodrigues de Ruy Castro. O jornalista
mostrou como a família Rodrigues foi prejudicada pela Revolução de 30, como
Nelson começou no jornalismo e também no teatro. Um dos pontos altos da obra é
quando Ruy fala do irmão de Nelson, Mário Filho. O cara foi um grande promotor
cultural no Rio de Janeiro; conservadoramente casado, grande nome do "Jornal dos
Esportes" (de folha rosa, lembra?). Foi ele quem promoveu corridas de automóvel
em torno da Lagoa Rodrigo de Freitas e celebrizou a expressão "Fla-Flu".
Surpreendentemente, o leitor é informado no final do livro que, embora fosse um
reconhecido monogâmico, após a morte de Mário, caixas e caixas de cadernos com
contos pornográficos foram encontrados atrás de seu escritório no Jornal dos
Esportes. Por um momento, entre as folhas de Said, meu pensamento, ave de
plumagens cambiantes, conduziu-me a seguinte pergunta: qual o segredo de João?
Com sua morte quais os enigmas que virão a lume? Bruxo, pedir para você rezar
por mim seria uma piada, mas um pouco de magia para que eu passe nos concursos
que farei esse ano não lhe custará nada ...
saudades,
Leo
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