1 de nov. de 2012

A POLÍTICA DO ALPISTE

A política do alpiste até agora é um fracasso completo. Os passarinhos não se interessam, embora as formigas se mostrem felizes. A água adocicada para os coleiros também foi ignorada, para a satisfação dos marimbondos e, novamente, as formigas. Não há qualquer novidade nisso. Há uma lição implícita, porém. Todo mundo deve fazer a sua parte sem esperar recompensa. Assim, não é política no sentido estrito do termo. Política é ação, mas ação imbuída de interesse, algum pelo menos.
Eu me recordo a propósito de uma história antiga de um tempo em que eu estava bastante sintonizado ao zen budismo. Foi assim:
Uma senhora me disse estar desapontada. Era espírita e não entendia a ingratidão das pessoas. Em uma distribuição de roupas a pessoas carentes, houve quem desdenhasse o gesto da instituição, o ato de distribuir roupas aos pobres. E ela frisou ter sido praticamente expulsa de algumas casas, porque lhes oferecia gratuitamente roupas, usadas, sim, mas em bom estado. Ouviu até alguém dizer não estar necessitando de esmolas. Então, ela pediu minha opinião.
Solicitei que me acompanhasse até a janela.
- Está vendo aquela árvore.
- Sim.
- Hoje está fazendo um calor danado, certo?
- Sim, sim. (Ela ficou surpresa pela aparente falta de relação entre o que me contou e o diálogo da janela).
- Então, quem quiser se abrigar do calor, procure a árvore. Ela está simplesmente lá e não obriga ninguém a se beneficiar de sua sombra...
- Sim e daí?
- Ponha suas roupas em um local e um aviso de que é grátis: pega quem quer. As pessoas não foram grosseiras com você, mas é preciso deixar o ego de lado se de fato quer ajudar alguém.

Bem, o alpiste está lá. Até o saco acabar, vou continuar oferecendo aos passarinhos. Se não comerem, ou têm alguma coisa melhor ou não estão com fome, não é um problema meu...

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