Comuniquei minha decisão de sair. O salário nunca foi compensador, é verdade, mas havia uma espécie de débito pessoal. Sempre fui aluno de colégio público, lecionar no Estado era uma forma de retribuição. Ouvi algumas palavras de elogio, retirei meu cadeado, entreguei os diários, eis tudo. A educação estadual é uma catástrofe. Quantas vezes me perguntei o que estava fazendo ali... Mas havia sempre um ou outro bom profissional; um ou outro aluno de fato interessado. Estou falando da minoria absoluta, pois a maioria se entrega ao desperdício coletivo de tempo. Não me envergonho do trabalho que desenvolvi, mas tenho consciência de que poderia ter feito mais. Agora é passado... Fica na memória o rosto sorridente das dirigentes de turno, do pessoal da coordenação, secretaria e cozinha. Alguns alunos lamentam, outros são indiferentes. Preocupa-me o futuro daqueles jovens, que agora não poderão ouvir mais minha lenga-lenga sobre a necessidade estudar. Eu lhes dizia: você joga bola, é craque? Sim, dizia um engraçadinho. Mas tem padrinho, pistolão, costa quente? Então vai acabar um dia num balcão de loja. Você é linda? Modelo? Não? Então, como todo respeito à profissão, vai ser caixa de supermercado. É rico? Parente de Governador? Não? Então, gente, tem que estudar...
Um comentário:
Acompanhei sua trajetória desde a publicação em D.O. cujo decreto foi assinado no dia do seu aniversário...um ciclo se fecha.Quem perdeu? Os alunos certamente. Dou-lhe apenas os parabéns! Sei que não pediu exoneração pelo salário...mas ministrar aulas no Estado é desanimador, desgastante...e o pior: é não enxergar a possibilidade de futuro, é pensar que algo está em extinção...Mas para você existem pessoas ávidas por compartilhar seu saber e experiências...Boa sorte e sucesso!
Postar um comentário