4 de jan. de 2011

BUENOS AIRES

Da primeira vez que estive em Buenos Aires fiquei no bairro Recoleta e guardei uma imagem bastante superficial da cidade. Desta vez fui guiado por um senso antropológico, percorri as ruas decadentes ladeadas por velhos prédios; andei de ônibus e metrô, fui aos mercados, vi o povo de perto. Não obstante a euforia do turismo e do comércio feérico, não se vive bem em Buenos Aires. A comida que o cidadão comum come não é variada, praticamente não há frutas - se é que se pode chamar de fruta o que vi. No Carrefour havia até abacaxi parcialmente estragado à venda, morangos que geralmente jogamos fora, sendo a laranja a única exceção. Comem mal e não sabem fazer pão, quase sempre duro. A desigualdade social é estampada no contraste entre os palacetes e os casebres da periferia. Não vi negros e sim a pele indígena marcada no povão que faz os trabalhos humildes ou pede esmolas. E confirmei o que já sabia: os argentinos vivem no passado. O que talvez explique a ausência de festas no Ano Novo. O passado e o tango, o passado e Evita, o passado e Maradona, o passado... Certa vez um filósofo disse que o passado (diga-se, a história) é um fardo. O que ele diria se visse a Argentina... É como se você entrasse no túnel do tempo para rever carros e músicas fora de moda; agora compreendo o porquê de tantas lojas de antiguidades. Um senhor, funcionário público, solicitou-me que tirasse uma foto. E me deparei com uma máquina que usa filmes, uma raridade aqui entre nós. Eu poderia multiplicar os exemplos. Não se trata apenas da falta de recursos, mas de um traço da personalidade portenha. Eu poderia assim resumir Buenos Aires: media luna, carne, alfajor, obelisco, tango, Evita, Maradona, Mafalda, leite e Gardel...

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