9 de fev. de 2010

LEVEZAS

LEVEZA 1
O discípulo comentou: o senhor é um felizardo, pois desfrutará o paraíso após a morte. Seu mestre, então, respondeu: quem me dera... O jovem, incrédulo, acrescentou: ora, o senhor certamente irá para o céu! O velho Buda retrucou: não, irei para o inferno, certamente. Ainda sem acreditar o discípulo insistiu: o senhor é um homem correto, como é que poderia ir para o inferno? A sentença foi curta: quem é que vai esperá-lo quando no inferno você chegar...
LEVEZA 2
Passou por mim enquanto eu lavava o carro. Apertou minha mão sem muita força e reparei que seus olhos estavam embaçados. Conversamos rapidamente. A depressão o destruíra. Mas os algozes são outros. É um homem velho. Abandonado. Não tem dinheiro. Não há retorno. A vida é dura. Confiava em Deus e na matemática. Mas a sociedade foi mais forte. Não se alimenta direito, não sabe cozinhar. Eu também não sei. Mas tenho que ajudá-lo de alguma forma.
LEVEZA 3
O galo apareceu subitamente no fim da rua. E todo dia canta. Galos têm certo charme, sei lá. Tem o pescoço pelado, é de briga. Mas Fifi, a gata, dá cada carreira nele... Alertaram-me que está com fome. Jogo pão e restos de comida. Ti-ti-ti-ti - eu chamo sem saber se é realmente assim que se faz.

Um comentário:

MM disse...

O luar convida, e vou de R.E.M. novamente. Sem café, hoje estou limpa. E existe leveza no ar; um pleonasmo muito particular. Arroubos de sutileza mudam o nosso olhar. Bem longe escuto um cocoricó... Concordo plenamente... Espalha beleza ao cantar, o galo na madrugada.