18 de set. de 2009

IN NATURA

Sou pintor, descobri finalmente minha vocação. Minhas cores são obtidas com a combinação de letras e aos poucos as imagens brotam vibrantes, fixadas não em telas mas nas memórias da minha cabeça delirante. Pois bem, é preciso delirar para retirar o inacreditável do burlesco ou não enlouquecer em ambientes tão bizarros. Hoje foi uma tarde cinza. Recebi uma mensagem falando de cinza e tudo parecia cinza, mesmo que eu goste de cores e amores. Eu me deixei inebriar por odores e poderia ter deixado todos os horrores de lado, apenas para me manter ali, lado a lado. A beleza tem um poder destruidor eu disse ao professor, mas é melhor mudar de assunto. Nunca tive uma dedicatória sincera ou uma renúncia em meu nome; jamais desfrutei de abnegação que não fosse uma breve ilusão. Eu apenas ouvi, eu ouço, ouço e ouço. Disseram-me algum dia, alguma hora, num quarto escuro de motel: você é um poeta. Não. Sou pintor sempre fora e dentro dos meus quadros. Uma tarde cinza de muitos odores, eu via cores e tamanha beleza que pensei em amores. Mas a estrada exibia apenas uma lagoa cinza, tão cinza, que me parecia imunda...

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