1 de jul. de 2009

A BORBOLETA

Era uma vez uma borboleta amarela. Não existe mais bela. Mas a borboleta vive numa redoma de vidro e assim só ela pode ver o brilho dourado de suas asas. Ela se contenta com o reflexo e se alimenta de ilusão. A borboleta não voa, apenas se perfila entre suas imagens invertidas. Não vive desde que deixou de ser lagarta. Ela finge que conhece flores. Não poliniza e assim foge ao destino das borboletas. Dizem que o pó das asas de borboleta pode cegar. Mas quem ficou cega foi a borboleta amarela. Ninguém pode salvar a borboleta amarela. Ela não quer...

3 comentários:

Letícia Costa disse...

Eu ia dizer pra você não ter pena da borboleta, mas eu fiquei com pena dela... agora eu entendo o que quer dizer. também conheço muitas iguais a essa!

Aline disse...

Talvez Miller arrancasse suas asas...ou a beijasse...Hoje prefiro a poesia intensa...

"Lado a lado com a espécie humana corra outra raça de seres, os inumanos(...)que, incitados por desconhecidos impulsos, tomam a massa sem vida da humanidade e, pela febre e pelo fermento com que a impregnam, transformam a massa úmida em pão, e o pão em vinho, e o vinho em canção. Do composto morto e da escória inerte criam uma canção que contagia. Vejo esta outra raça de indivíduos esquadrinhando o universo, virando tudo de cabeça para baixo, os pés sempre se movendo em sangue e lágrimas, as mãos sempre vazias, sempre se estendendo na tentativa de agarrar o além, o deus inatingível: matando tudo ao seu alcance que lhe rói as entranhas (...) Um homem que pertence a essa raça precisa ficar em pé no lugar alto, com palavras desconexas na boca, e arrancar as próprias entranhas. É certo e justo, porque ele precisa! E tudo quanto fique aquém dessa aterrorizador espetáculo, tudo quanto seja menos sobressaltante, menos tetrificante, menos louco, menos delirante, menos contagiante, não é arte. O resto é falsificação. O resto é humano. O resto pertence à vida e à ausencia de vida". H.M.

Elaine Mendes disse...

Não sou sua borboleta, mas sem dúvida esse conto me é familiar.