A fumaça do incenso faz piruetas entre o quarto e o corredor. O burburinho do casamento ficou na memória, embora um traço de dor de cabeça se insinue: resquícios de muita cerveja e música. Impressiona-me a força do ritual, que retira força das emoções coletivas. O padre recitou a prédica e os fundamentos da família tradicional e conservadora. Minha filha estava radiante e seus parentes emocionados. Para a nave da igreja penetrava um odor de terra umedecida. Na festa, enquanto alguns se esbaldavam no funk, outros preferiam a conversa maledicente ou se entregavam às amenidades. Estranha sensação de etapa cumprida, mas antes que minha filha adentrasse à igreja, ouvi sua voz inconfundível: não fale nada, pai; você é a única pessoa que pode me fazer chorar agora...
2 comentários:
Aos Nossos Filhos
Elis Regina
Composição: Ivan Lins/Vitor Martins
Perdoem a cara amarrada,
Perdoem a falta de abraço,
Perdoem a falta de espaço,
Os dias eram assim...
Perdoem por tantos perigos,
Perdoem a falta de abrigo,
Perdoem a falta de amigos,
Os dias eram assim...
Perdoem a falta de folhas,
Perdoem a falta de ar
Perdoem a falta de escolha,
Os dias eram assim...
E quando passarem a limpo,
E quando cortarem os laços,
E quando soltarem os cintos,
Façam a festa por mim...
E quando lavarem a mágoa,
E quando lavarem a alma
E quando lavarem a água,
Lavem os olhos por mim...
Quando brotarem as flores,
Quando crescerem as matas,
Quando colherem os frutos,
Digam o gosto pra mim...
Digam o gosto pra mim
imagino o quanto ficou feliz!!!
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