Quando a dignidade é mais importante que a beleza.

Eu nunca troquei mais que duas palavras com ela. Entrava, saía, fazia as atividades propostas e ponto. Discreta e eficiente. Soube um dia que faria uma monografia sobre o império romano e, ao corrigir seu projeto de pesquisa, disse que achava que seria uma impreitada difícil. E realmente foi. Pouco tempo depois, por indicação de amigos, procurou-me quase às lágrimas. "Você pode me ajudar?" Eu lhe disse que não entendia nada de Roma. Ficou combinado, então, que ela faria um trabalho sobre a Revolta da Vacina. O tempo era curto, pouco mais de um mês. Nervosa, aos poucos entrou em pânico e minha primeira tarefa foi levantar sua auto-estima. Trazia apreensiva os textos: eu lia, riscava, riscava e assim fomos avançando. Ela emagreceu, pois já não dormia direito e as marcas da tensão se pronunciaram. É uma mulher de beleza incomum, mas que repentinamente ficou sem brilho, sem vida. Ela ficou de me enviar o texto final num sábado. Neste dia, as horas transcorreram e nada. Eu me preparava para ir ao cinema e o computador emitiu um bip de mensagem recebida. No email ela agradecia a atenção e me comunicava ter desistido. Eu entrei em desespero. Enviei scraps com pedidos de socorro às suas amigas. O retorno veio na forma de uma onda de solidariedade, de apoio e colaboração. No dia da apresentação, ela fez direitinho o combinado; seu desempenho foi seguro conforme o treinamento que havia recebido. Suas amigas vibraram na platéia e eu me senti bastante orgulhoso, satisfeito. Este tempo reduzido de convivência foi o suficiente para eu me tornar seu amigo e admirador. Simone é um exemplo de mulher moderna, decidida, que enfrenta os desafios do mundo. Ela não recorre aos expedientes comuns de gente fraca, não usa seu charme ou se desmancha em choro para obter resultados. Eu testemunhei sua dignidade e depois conheci sua capacidade de ser leal. Hoje, dia do seu aniversário, quero homenageá-la, pondo o episódio acessível a quem por aqui passe os olhos. Parabéns, cara amiga.