10 de mai. de 2012

A CONTADORA

Sempre às nove da manhã. Creio que foram dez anos. Ela perguntava sobre a minha vida e depois abria um rosário de queixas. Pedia à secretária um café. Ana era contadora e me prestava serviço no imposto de renda, essa exorbitância. Ela tinha os dentes amarelados pelo cigarro, que não deixava de fumar nem à presença de clientes. Fumava e fumava. Sempre estressada, nervosa com os problemas alheios. Sei que ela cuidou da mãe até a morte; que era mãe zelosa e preocupada com o futuro do filho. Um dia, extraiu um dos seios. Em 2012, marcamos a reunião habitual. Para minha surpresa, o filho, agora um homem, cuidou dos meus interesses. Disseram-me que a Ana estava indisposta. Então, fez um AVC e logo a seguir morreu de forma fulminante, por complicações pulmonares. Estranho isso. A pessoa estava sempre lá; de ano em ano eu aparecia para tratarmos do serviço; anualmente o ritual: café, cigarro, problemas da vida alheia com o fisco. E simplesmente, não existe mais. Curiosa essa filosofia de vida mundana: vivemos como se fôssemos eternos...

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