20 de jul. de 2010

ÁGUA, ÁGUA, ÁGUA

Aquelas ruas me chamam. Lá onde os escravos eram vendidos. A sede do poder ao tempo da República Velha. Todo um glamour que não existe mais. Antes, uma malandragem desgraçada, misturada aos montes de ambulantes, trabalhadores da estiva, operários e a muitas putas que fazem o espetáculo mais deprimente da terra. Conheço cada bueiro, cada vulto e poste suspeito. Lá onde se mija à farta e a creolina é a água benta de todos os dias. A festa tinha que ser lá. Uma questão de carma, é claro. O estômago em carne viva sedado por cerveja e água, muita água. Água no chão, água nas roupas, água, água, água... Eu já escrevi isso: a vantagem de ser poeta é poder a cada diar viver um novo sonho. Mesmo no inferno.

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