5 de fev. de 2010

A VOLTA DE GENGIS

O rapaz passou por mim correndo, as mãos cobrindo o rosto. Ela abriu a porta e o ar quente entrou; trajava uma vistosa capa negra, mais tenebrosa do que sexy. O doutor Gengis me aguardava. Gengis Khan o nome completo do dentista. E hoje foi mais uma sessão de tratamento no siso. Desta vez nada de baldes de anestesia. "Não há necessidade", disse com um sorriso. O sol inclemente lá fora não o convence a ligar o ar condicionado. 45% na rua, uns 55% no consultório - ainda é cedo...
Encheu minha boca de algodão. "Sua saliva atrapalha". Os chumaços me impediam de fechar a boca e mesmo respirar normalmente. Depois uma boa dose de água sanitária. "É Super Globo! É da boa". Por fim o serrote... reco... reco... reco...
Eu entendo meu dever de pagar todos os pecados - os da humanidade, digo. Fechei os olhos. Acho que desmaiei por umas breves 2 horas. Não sei ao certo. "Por hoje está bom. Houve uma pequena hemorragia. Nada demais..." Arrisquei uma pergunta: "ainda falta muito?" Ele pareceu decepcionado, cerrando ainda mais seus olhos miúdos. "Por que tanta pressa?"

Um comentário:

MM disse...

Há uma ausência, uma inquietação que aflige meu coração.
Vem das palavras, do tempo, do vento, da falta, da ironia e do encantamento.
Não sei se espero ou deixo morrer. Por que tanta pressa?