19 de dez. de 2009

UMA CARTA A VOCÊ

Escrevo a você. Este post é uma carta. Por telefone eu não teria mesmo como me alongar. Então, aqui fica minha torcida por sua recuperação. Você está doente e de longa data. Uma doença contraída na infância e que marcou sua alma. Eu entendo dessas coisas, já fui um doente deste tipo e eventualmente tenho recaídas. De tragédia em tragédia, a vida só se mostrou negra aos seus olhos. Gente ruim e canalha, aproveitadores e manipuladores e o fascínio exercido pela loucura. No meu livro Nicolino o personagem principal só se liberta enlouquecendo. Você então foi cooptada e sugada, transformada em bibelô e despersonalizada. Mas desde a primeira vez em que a vi - e me lembro exatamente quando foi - percebi uma centelha quase divina. Senti uma luz própria e um brilho invulgar; senti que você tinha algo a mais, o que só confirmei ao longo do tempo de nossa amizade. Percebi um diferencial, um talento, sobretudo, luz - é a palavra apropriada, luz. As trevas procuram envolvê-la e seus olhos muitas vezes estão turvos e sem vida. Você não pode se entregar à depressão e às forças do desânimo. Não pode e não deve. Quanto mais debilitados estamos, mais propensos ao poço ficamos... A vida é um privilégio, uma concessão única e a consciência disso pode ser reparadora. Força de vontade para criar amor próprio e não ter medo de amar - e eu aqui utilizo a palavra em sentido bem amplo. Não há receitas prontas e nem no cinema os mocinhos estão vencendo. Ainda assim, posso lhe dizer o que fiz em termos pessoais. Primeiramente, livrar-se do passado. Dos medos do passado, dos traumas do passado - do carma que o passado representa. Lutar para recuperar a vontade de viver. De sentir o prazer de estar vivo: comer bem, sexuar, tomar um vento na cara, sorrir até de desgraça. Olhar-se no espelho e dizer: EU MEREÇO VIVER BEM, em qualquer situação, sem dinheiro, sem roupa, porque tenho a mim, tenho a Deus, tenho todos aqueles que queiram ser meus amigos, enfim. Quando se perde tudo é que se sabe exatamente o que se tem e foi assim quando perdi minha empresa. Existe gente boa no mundo, raras, mas existem. Cultive-as. Olhe a natureza, as flores, as crianças - aproxime-se da beleza, pois ela contamina. Cultive o interior, os bons pensamentos e se torne uma pessoa melhor. Pemitir-se gostar - gostar de alguém faz bem, traz brilho aos olhos. Gostar todo dia, nos pequenos atos, de forma surpreendente e sedutora. A vida é curta e todo risco, toda ousadia, é justificada (sem loucuras, claro). Parece fácil? Tem sido uma caminhada dura e de recaídas, tenho um pessimismo natural e uma tristeza crônica, que transformo em versos ou em sentimentos inertes. Parece ruim? Já foi pior, é verdade. Hoje eu chego numa loja, como foi ontem, e conquisto as pessoas. Sou requisitado em festas, por pessoas mais jovens, enfim, quase um dândi... rs. Não guardo mágoa ou rancores, gosto de me sentir uma pessoa do bem, sobretudo, praticando-o. Acho que escrevi demais e provavelmente será de pouca valia o esforço. Não importa. Sempre faço a minha parte. Se estivesse a meu alcance, lhe daria um grande abraço, cheio de positividade, deixando meu corpo livre para receber sua negatividade. Eu receberia todo esse mal que lhe envolve sem medo, porque acredito nas forças da construção e da regeneração. Acredito no amor e na vida. Gostaria de lhe ver radiante e ocupando uma posição que é naturalmente sua. Mas não depende de mim, fundamentalmente depende de você, de encontrar o seu caminho e a sua libertação.

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