1 de dez. de 2009

O IMPONENTE HOSTEL

Não sei o porquê da solicitação. Ao terminar o congresso de representações em 2007 escrevi uma crônica humorada sobre os acontecimentos que envolveram o evento. Desta vez não se justifica, não houve nada excepcional. O Southern House é um hostel localizado no bairro mais charmoso de Buenos Aires. "Um hostel", me disse a Ana Carolina. "Não sei o que é isso. Conheço cabeça-de-porco, muquifo, barraco..." "Hostel é um albergue", ela disse", "este tem até piscina". Um nome pomposo, um bairro nobre, a Recoleta...
Cheguei sob chuva intensa. Achei estranha a entrada, incompatível com o nome. Era uma porta reforçada, dessas que são usadas para a contravenção no Rio. Uma campanhia e uma porta pesada para ser empurrada e os dentes de Nene, abertos e incompreensíveis. Bem diferente das fotos no site, pensei imediatamente. O quarto deve ter sido usado em filmagens da Família Adams, mas numa versão miniatura, claro. Talvez um dos sete anões ficasse bem à vontade, mas entendo, o mundo já anda ocupado demais. Um quarto com muita tecnologia, devo dizer. Nunca vi uma cama inclinada, provavelmente para combater a preguiça dos hóspedes, pensei. Mas, para não cair, era necessário encaixar a bunda num dos muitos buracos do colchão...
Já a preocupação do Southern House com nossa saúde beira às raias da perfeição. Nene é um desportista e pensou em tudo. Para deslocar o elevador é preciso movimentos vigorosos com os dedos. A higiene é outro ponto a destacar. No meio do vaso sanitário há um... um... objeto pontiagudo e metálico, uma ducha fixa. Pessoas maledicentes chamaram o objeto de vibrador e ou fizeram comentários sobre a possibilidade de... Vamos pular isso.
Encontrei minhas colegas de UFRJ no café da manhã. Entusiasmadas, tão entusiasmadas, que me lembraram as viagens de Marco Polo. Falaram de rodos maiores que o banheiro, de monstros de sujeira e baratas gigantes - que imaginação fértil dessas meninas! Realmente um petit lixô ou um crepe de cucarachas não parece muito saudável, mas não sejamos severos demais, gente.
Descobri um jeito muito legal de aproveitar aquelas madeiras que ficavam suspensas entre o teto e a minha cabeça: pendurar roupas, utilizar como barra para exercícios, nem usei a caixa de fósfor... digo, o armário de roupas. Por 20 pesos a mais eu teria televisão no quarto, mas Nene em sua generosidade me deixou uma graciosamente. Mas confesso que a programação argentina não era muito sedutora. Eu também tinha outros passatempos mais divertidos, como por exemplo colocar a barra da cortina no lugar ou tentar tomar banho dentro do mini micro box.
Luxo, muito luxo no Southern House. Também com um nome desses... Água quente, água fria em abundância, embora água mineral não tenha nem para vender. Beba da bica me disse a simpática funcionária, que também faz panquecas e serve o "desayuno". Além das iguarias já citadas, também se oferecem torradinhas com manteiga - seria melhor dizer pedrinhas - e colombolo... Você não sabe o que é colombolo? Receita da palavra: junte Colombo, o navegante, à bolo e... bem, acredito na sua inteligência!
Encontrei Adriana Carrijo em pânico. Disse-me que seu tempo de acampamento havia passado, que estava à beira de um ataque de nervos. Falou-me do tal rodo gigante e de outros tantos episódios que manchavam a imagem de nosso elegante hostel. Fiquei preocupado, Nene poderia ficar magoado com tamanha ingratidão. Enquanto Adriana parecia fora de si, olhei o piano e a pilha de livros desarrumados o móvel. Observei restos de comida da noite anterior e a televisão que transmitia uma partida da Apertura. Outras colegas me cumprimentaram e uma delas pediu meu pratinho de geléia. Esqueci de comentar com elas que um policial argentinou esteve de quarto em quarto a perguntar se estava tudo bem. Quanta delicadeza! E olha que dedicação: três da manhã!! Nene disse que não sabia deste assunto...
Na verdade, para quem havia enfrentado um avião da Gol a 40 graus durante 3 horas, recebendo como prêmio um sanduíche indescritívelmente velho; para quem havia experimentado todos os equívocos dos aeroportos no Brasil e na Argentina; para quem... é melhor parar, Adriana não vai me convencer que esses episódios merecem uma crônica. A história só se repete como farsa, disse o filósofo. Nene, fique com Deus, obrigado por tudo. Em tempo: Nene é mesmo o nome de um dos gerentes-funcionários-ascensoristas-faxineiros do imponente Southern House.

3 comentários:

Unknown disse...

kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
Descrição perfeita!!!

Unknown disse...

Propaganda enganosa é pouco para classificar essa epopéia.
Hehehehe!

Unknown disse...

Voce realmente precisa voltar a Mi Buenos Aires querida!!