27 de out. de 2009

O IMPERADOR

Disse o imperador Marco Aurélio que Deus não oferece peso a quem não suporta carregá-lo. Deve ser verdade e quem sou eu para contrariar o rei filósofo. Mas você mal se acostuma com a carga e lá vem Deus a inserir mais algum novo peso. E assim com o tempo as costas se curvam, depois os joelhos, o jeito é trincar os dentes e seguir firme. Na atualidade convivemos com muitos pesos. Viver no Brasil é uma experiência contraditória. Por um lado, terra linda e maravilhosa; por outro, governos salafrários e outros tantos termos chulos que possam existir para designar uma ordem injusta e excludente. Mas será possível agir com ética sem perda? O hexagrama do i-ching que afirma ser melhor passar fome que se alimentar por mãos indignas é quase uma obsessão em minha vida. Aos poucos foi ficando cada vez mais difícil entrar na lama sem respingos até que a pele se escurece e fede gradativamente. E me lembrei subitamente dos filhotes de cachorro recém-nascidos que jogaram num charco - gente maldita é bom dizer. Eu gostaria de ter histórias alegres para contar; histórias de gente bem sucedida e de sucesso. Tanta gente que eu gostaria de poder ajudar, mas o imperador tinha razão: muito mal consigo manter a sanidade e já devo me dar por satisfeito por fazer uma graça aqui e outra ali. Não faço mais poemas, já parei com as crônicas, ainda restam o blog e a tese. A tese é um compromisso e o blog uma tentativa de comunicação com o mundo... Já contei no Rápidas e Sorrateiras a fábula da borboleta amarela, só não disse que ela me lançou uma maldição que se tornou aos poucos realidade. Talvez, a única forma de quebrar o feitiço é me transformar em flor de lótus...

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