21 de set. de 2009

AS CRIATURAS

A moça era de Piabetá. Tinha tanto medo de ficar sozinha na rua que resolveu me seguir. Baixinha e mirrada, contou-me da vida em Magé - de um lugar onde se rouba até lâmpada de varanda. Enquanto eu devorava um delicioso macarrão, ela ria das idiotices do Didi na televisão, saboreando um refresco de limão. Aguardamos a abertura dos portões e eu me impressionava com a quantidade de "moradores de rua" ao redor, que parecem se multiplicar nos fins de semana. Moradores de rua é o cacete! Excluídos, marginalizados, indigentes ferrados... Aos montes, deitados, parecem viver para dormir e ainda tão jovens - que coisa deprimente! Entramos. Eu conversava qualquer coisa com a piabetana quando fui abordado por um senhor. Ele me conhecia e me cumprimentou. E me lembrei, era um antigo colega de graduação no IFCS. Meu Deus! Como ele estava envelhecido! Perguntei sem cerimônia: ué, você agora é mais velho que eu? Ele me disse que era um pouco mais novo - "tenhos uns fios grisalhos", concluiu. Não. Era um senhor: pele macilenta, roupa cafona, sorriso e pele amarelos. Despedi-me de todas as criaturas e fui cuidar dos meus afazeres. Cruzes!

Um comentário:

Aline disse...

Você além de inspirar confiança, ainda está filé (essa linguagem é pós-moderna?). A vida é um desafio e poucos tem disposição para encarar. Soube fazer sua limonada, bjs.