28 de dez. de 2008

O vinho costuma ter um teor alcoólico de 10%, mas este Porto que ganhei chega quase aos 20%. Guardei o vinho para os fantasmas e rosas, mas como não acredito que apareçam, abri a garrafa. Ele desce quente e viscoso e me aparenta de longe um conhaque. Vou tomar mais um gole, quem sabe os fantasmas se transformam em demônios e as rosas... bem, as rosas não falam, dizia o velho poeta. O vermelho escuro do vinho parece com sangue venoso. Meu telefone está desligado desde o Natal e me sinto bem sem ele. Voltei aos treinamentos, ainda que aos trancos e barrancos; e sinto aquelas sensações maravilhosas que advêm do mantra. E me lembrei daquela dançarina de yoga que me deixou excitado por vários dias. Ela parecia um dervishe em sintonia com o cosmo, em expansão, em comunhão... não sei como definir, mas aquele shiva impetuoso que me habita estava ali - shivalinga. Nunca mais a vi, provavelmente se transformou numa matrona insuportável - era o seu karma, me diziam. Achei ao acaso um verdadeiro tesouro. Não salvo conversas de msn, aliás não guardo fotos, cartas ou rancores. Entretanto, na pasta do meu telefone, criada no computador, estavam aquele diálogos insanos. Vacilei em apagar, compreendendo que já foram apagados pela vida e agora são apenas bytes. Mas de certa forma são com a dançarina, componentes da minha memória, experiências de vida.

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