Retirei da prateleira o cd do Fagner. Parece incrível, mas ele já foi um poeta de primeira linha, que expressava o nordeste - "Teu amor é cebola cortada meu bem. Que logo me faz chorar. Teu amor é espinho de mandacaru. Que gosta de me arranhar. Teu olhar é cacimba barrenta meu bem". Naquele tempo os jovens se reuniam para ler poesia e um grupo talentoso de cearenses e pernambucanos invadiu o sul maravilha. Fagner se destacava, misto de repentista e seresteiro, com sua voz cortante e versos igualmente afiados. Mas não é o bardo do litoral, guia de roteiros turísticos em praias paradisíacas. Não. É a voz da caatinga, do vento seco, do sol recalcitrante. Eu me arrepio ao som de Flor da Paisagem: "... Azul de prata, meu litoral / Dois brincos de pedra rara / Riacho de água clara / Roupa com cheiro de mala". Ele se refere aos olhos da amada. "Teus zoi no fim da vereda / Amor de papel de seda / Teus zoi que clareia o roçado / Reluz teu cordão colado." Meu Deus, como é possível tal inspiração? Retirou do agreste as mais delicadas metáforas. A mala do retirante, o roçado de que se retira o sustento, os olhos da amada...
Um comentário:
hum... gosto de coração alado (apesar de achar o refrão cafona). Tem uma letra muito boa!
Postar um comentário