3 de jun. de 2009

DOS CÉUS

O sujeito sentou e não pediu licença. Mau sinal. Logo a seguir entabulava conversa com seus colegas do outro lado da mesa. Não gosto de bandejão. Lugar cheirando a misto de gente e comida. Todos com pressa, inclusive as frituras. De repente, o cara começou a cortar a carne. A mesa tremeu e meu copo de guaravita por pouco não foi ao chão. Eu não pretendia me aborrecer. Enquanto isso uma senhora quase arrancou minha orelha com a bolsa. Não! Não vou me apressar. O troglodita começou a conversar sobre futebol americano, a boca cheia de carne. Imaginei que ele poderia exalar bactérias em minha direção - não sei bem a origem de idéia tão repugnante. Levantei-me com suavidade. A fila parecia imensa. O caixa não me deu o troco de dez centavos. Alguém arrotou tão de perto que senti o aroma de carniça. O dia lá fora parecia um presente dos céus.

Um comentário:

Aline disse...

Não Tenho Pressa

Não tenho pressa. Pressa de quê?
Não têm pressa o sol e a lua: estão certos.
Ter pressa é crer que a gente passa adiante das pernas,
Ou que, dando um pulo, salta por cima da sombra.
Não; não sei ter pressa.
Se estendo o braço, chego exactamente aonde o meu braço chega -
Nem um centímetro mais longe.
Toco só onde toco, não aonde penso.
Só me posso sentar aonde estou.
E isto faz rir como todas as verdades absolutamente verdadeiras,
Mas o que faz rir a valer é que nós pensamos sempre noutra coisa,
E vivemos vadios da nossa realidade.
E estamos sempre fora dela porque estamos aqui.

Alberto Caeiro