22 de jan. de 2009

BRINCADEIRA DE CARNAVAL

Vem brincar João, assim me chamavam os colegas nos dias de carnaval. Eu era um garoto e não conseguia entender o motivo de tanta alegria. O tempo passou e mesmo aceitando o gosto alheio, não vejo sentido no carnaval. Claro, há muitos atrativos: os dias sem trabalho, as mulheres exuberantes, a criatividade das fantasias, enfim. Mas muito pouco há de brincadeira. O carnaval inocente a que se refere minha mãe não existe mais. O comércio de droga e bebida a serviço da violência é tão visível quanto as bundas na tv. A vulgarização do corpo, os desastres, bem... preciso mesmo continuar com o saldo negativo? Há o aspecto da catarse proporcionado pelas festas coletivas, liberação de energia, de sexualidade: dias em que a repressão não funcionaria e assim dias de suposta liberdade. Quer dizer, 365 dias de mediocridade menos 7 de carnaval e outros folguedos... é isso? Penso como Osho: a vida é ou deveria ser uma grande celebração. Agora entendo o meu desconforto infantil - pular porque os outros pulam, porque é dia, porque está no calendário? Ora, eu brinco quando tenho vontade! A liberação do carnaval muitas vezes assume o caráter de uma histeria coletiva, promovida pela ação de instintos reprimidos que vêm à tona e... salve-se quem puder! Tenho consciência, porém, que é duro ser diferente e receber uma saraivada de críticas. "Quem não gosta de samba bom sujeito não é..."


Um comentário:

Coral disse...

Já amei, quando criança ver os “bonecos do Germano” (será isso?), no coreto da Camarista Méier, quando um tio postiço levava à contragosto de meu pai. As histórias da minha avó, tão caseira...que fugia vestida de “sujo” em Madureira depois de se despedir de meu avô. Bem fez ela, que adorava carnaval e cuja vida perdeu toda folia depois do casamento. As cores inocentes do carnaval se foram quando mudamos para Zona Sul, restou a TV e a Portela, herança da vovó, que também perdeu o encanto. No meio da vida, no meio do nada, redescubro as alegrias do carnaval, dos blocos de rua de Botafogo, do prazer de mostrar a meus filhos um pouco do que vi em outros tempos. E, o que é melhor: pintar e fantasiar uma fila de crianças que me rodeiam, fila crescente a cada ano.Será que alguém coloca no jornal?-PINTA-SE CRIANÇAS EM BOTAFOGO.
Adoro carnaval no Rio, mas existem bons sujeitos além dele, tranqüilize-se.